Reflexões e carinho ao mestre

Um bom-dia sincero. Estender a mão e se apresentar. Atitude por trás de um gesto posiciona. Exerce influência. Na generosidade de um ouvinte atento, a presença da educação. No sentido amplo. Família esclarecida e professor engajado significam um campo vasto para a evolução.

Um mundo melhor se faz todos os dias. A esperança permanece viva dentro das escola. Quem é o multiplicador? Uma pergunta retórica. A missão do professor é manter a humanidade. Vida longa e próspera. Facilitar o desenvolvimento das aptidões individuais, nas diversas etapas da vida.

Seja qual for a idade. Os anos entre a infância e a fase adulta formam o caráter. É nesse ciclo subjetivo e multifacetado da relação humana que se pavimenta o destino de cada um e por consequência da própria sociedade.

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Estar presente na escola, apoiar os professores e dialogar com os alunos. Nesse tripé se sustentam as caravanas do PENSE. Equipes do A Hora e dos apoiadores, Sicoob, Amvat, Cron, Univates, 3ª CRE e Instituto Dale Carnegie, vão aos colégios, para uma série de atividades.

Na primeira etapa, a comitiva visitou a Escola Estadual Vidal de Negreiros, em Estrela, e o Colégio Evangélico Alberto Torres (Ceat), em Lajeado.

Ensinamentos para a vida

Foi numa roda de conversa em cima de um pequeno palco com seis alunos que a primeira caravana do PENSE (Programa de Ensino e Educação Solidária) estreou, em Estrela, no ginásio da escola Vidal de Negreiros.

Os mais de 230 estudantes do 7º, 8º e 9º do Ensino Fundamental e do Ensino Médio foram convidados a pensar e relembrar em quais momentos os professores impactaram na vida.

Abrindo conversa, o diretor do A Hora, Adair Weiss, compartilhou com os alunos a primeira memória de quando um mestre mudou sua vida. “Perdi meu pai com 12 anos. Eu era o mais velho entre meus irmãos”, recorda. “Éramos pobres e morávamos no interior. Tudo que eu queria era estudar. Mas, ao mesmo tempo, precisava trabalhar”, lembra.

Em dúvida sobre qual rumo tomar, Weiss resolveu consultar um mestre para decidir o que fazer.

“Meu professor disse: “Estude, Adair. Não importando quando. Se não for agora, você pode fazer isso a qualquer momento da vida. Tua família precisa de ti”.

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(SEM LEGENDA)

Em seguida, para garantir o sustento de sua mãe e dos irmãos mais novos, Weiss começou a trabalhar em uma fábrica de calçados, aos 12 anos.

“Aprendi cedo, com meu professor, que nunca é uma palavra muito forte e que a gente sempre tem possibilidade. Afinal, a coragem é a atitude necessária para dar o próximo passo”, afirma.

Para Jonas Henrique Hauschild, 17, do 3o ano do Ensino Médio, o ensinamento que carrega consigo veio de um mestre em especial.

“O professor que mais valorizo é o meu pai. Além de me ensinar como ser, me incentiva a pensar no futuro”, diz. “Ele é famoso entre seus alunos pela seguinte frase ‘Quem não começa não termina’”, compartilha.

Filho de pai servente-geral e de mãe faxineira, Bruno Mallmann, 17, também do 3o ano do Ensino Médio, vê no estudo uma chance de dar um rumo diferente para sua família.

“Todos os professores que passam pela nossa vida ajudam a mudar nossa jornada. Quem não estuda, não tem uma base para prosseguir”, comenta. “Meus pais, mesmo sem estudo, foram meus guias que lutaram muito para que eu tivesse essa oportunidade”, diz emocionado o aluno.

Enquanto isso

No auditório da escola, professores da Escola Vidal de Negreiros participaram de palestras promovidas pelo Centro Regional de Oncologia (Cron) e Dale Carnegie sobre Saúde e Prevenção, com o primeiro, e Liderança e Motivação, com o segundo.

“Vocês devem estar se perguntando: por que uma clínica de oncologia, que trata de câncer, está aqui”, diz o médico Renato Cramer. “Pois explico, vimos nesta oportunidade, um momento para falar de saúde. Vocês têm grande responsabilidade sobre o futuro de nossa sociedade”, esclarece.

Em meio a palestra aos mestres, Henrique Kuhn, diretor do Dale Carnegie da região, questiona: “Sabem quanto vale um professor? Vale o quanto ele merece”, responde. Para ele, a participação do instituto no projeto Pense tem o objetivo de despertar ainda mais o propósito de vida destes profissionais – educar.

“Iniciativa brilhante e importante. No nosso dia a dia se faz necessário o reconhecimento e a valorização”, comemora a vice-diretora Eliane Schmachtenberg. “Temos que primeiro cuidar da gente, para depois cuidar de nossos alunos”, completa.

Por meio de dinâmicas interativas promovidas pelo instituto Dale Carnegie, professores expressaram sentimentos e compartilharam experiências
Por meio de dinâmicas interativas promovidas pelo instituto Dale Carnegie, professores expressaram sentimentos e compartilharam experiências

Prevenção começa ontem

Para os responsáveis pela formação do futuro da sociedade, a palestra do médico Renato Cramer aos professores tratou de saúde e a prevenção.

O médico alerta que muitas professoras da rede pública e privada são suas pacientes. Segundo ele, a doença reage de diferentes formas em cada paciente. Dos principais tipos de câncer que se tem conhecimento, a grande maioria, de 80% a 90% podem ser prevenidos com atitudes saudáveis.

“Nunca é tarde para começar. Nós médicos não tratamos só de diagnóstico. Tratamos de pessoas. “O futuro só acontece se vocês estiverem com saúde. A prevenção começa ontem”, afirma Cramer.

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Novas formas de educar

Diferente do antigo modo aplicado em sala de aula, em que controlar os alunos também fazia parte da doutrina, a nova geração não aceita os estigmas de “controle”.

“Tentar ir contra isso é desgaste de energia. É em vão”, comenta o carnegiano Henrique Kuhn. Conforme contesta, o aluno precisa perceber que tem um porquê e que essa razão tem um propósito.

“É a partir disso que o ensino vai ganhar velocidade de educar. As novas gerações se movem diferente”, afirma Kuhn.

Para ele, o segredo das pessoas muito boas é que elas refletem sobre o que pode ser melhorado para, então, evoluir. Mesmo com situações adversas, como parcelamento de salários, falta de reajuste no piso do magistério e a desvalorização profissional, os professores nunca perdem a esperança e a vontade de fazer a educação dar certo para que, no futuro, o país tenha cidadãos mais sensatos e independentes. “É isso que vejo aqui nesta palestra. Vocês transformam a vida das pessoas com o propósito que lhes incumbe”, afirma.

Para diretora da escola, Cátia Musskopf, essa iniciativa do projeto PENSE com os professores é a certeza de que a educação no Vale tem parceiros solidários e engajados na busca por uma melhor qualidade de ensino. “São muitas cabeças e corações unidos para fazer a diferença”, celebra

A conselheira

Famosa entre os alunos por seus conselhos de sabedoria, a professora Marilda Oliveira Dolores acredita que educar crianças e adolescentes vai muito além de passar conteúdo em sala de aula.    “Normalmente os alunos têm muitos problemas familiares. Eles precisam ser ouvidos e acolhidos. Isso muda e muito o desempenho deles”, comenta.

Não raro, alunos se dirigem até a Sala dos Professores no intervalo entre as aulas para buscar uma dica ou até mesmo desabafar com Marilda.

“Eu estava muito desligado em sala de aula. Não prestava atenção em nada. Aí a Marilda pediu para eu tomar um rumo na vida. Vi que ela estava certa e segui esse conselho”, conta José Ronald, 15, do 1º ano do Ensino Médio.

É que Marilda não consegue ver os alunos apenas como estudantes. Segundo ela, é um pouco mãe, psicóloga e assistente social de todos. “Às vezes em casa minha família cobra para me desligar um pouco dos pensamentos sobre a escola. Mas não consigo. Sempre estou pensando se consegui ou não ajudar meus alunos”, conta Marilda com os olhos marejados de lágrimas.

De olho nos slides

No ginásio do Vidal de Negreiros, ao longo da manhã, os estudantes também participaram de seminário sobre comportamento com a professora da Univates, Elise Bozzeto.

Abordando desde os cuidados de privacidade em redes sociais, fake news, bullying e a importância da autoconfiança no desenvolvimento pessoal, o objetivo da palestra foi mostrar caminhos de obter melhores resultados no mercado de trabalho aos alunos.

“Na idade escolar, alunos tendem a se importar mais com a opinião dos outros. É preciso acreditar em si mesmo. A realidade mais possível de se mudar é a de dentro”, conta a professora Bozzeto.

Cooperativismo importa

Com atividades que exaltavam o cooperativismo em trabalhos em equipes, os alunos participaram de exercícios em grupos promovidos pelo Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob).

Numa dança das cadeiras em que ninguém saía, apenas as cadeiras, ao fim da brincadeira, mais de dez alunos se aglomeraram em apenas um assento. Um no colo do outro, de forma improvisada, de forma articulada, eles conseguiram cumprir o objetivo.

Em outra atividade, numa grande corrente de alunos, um bambolê teve de ser passado, como um elo entre eles, sem que desprendessem as mãos uns dos outros.

“Viemos trazer o espírito de cooperativismo. Todos são importantes, mas o grupo é o foco principal. Para que consigam superar os desafios, cada um precisa fazer sua parte”, conta Luciana Valentino.

 

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