“Quando temos um ambiente empático em casa, temos diálogo”
O papel dos pais, da escola e da sociedade na formação dos adultos do amanhã. As mudanças trazidas pelas novas tecnologias e o acesso à informação. A linha tênue que divide o que é papel dos pais e o que cabe aos professores e demais profissionais que atuam junto aos jovens no ambiente escolar.
Essas foram as principais questões norteadoras do painel “Pais e escola: o papel de cada um para educação e formação dos filhos”, do projeto Pense, promovido pelo grupo A Hora. O debate reuniu cerca de 200 pais, mães e profissionais de educação na noite dessa quinta-feira, no auditório do prédio 11 da Univates.
O evento contou com a palestra do escritor e Relações Públicas, Gabriel Carneiro Costa. Especialista em comportamento humano, ele tem estudos nas áreas de coaching, educação emocional, psicologia positiva e análise transacional.
O debate teve ainda a presença do promotor de Justiça e coordenador do programa Vida Mais Viva sem Álcool, Neidemar Fachinetto, e da psicóloga, doutora em Educação e professora da Univates, Suzana Feldens Schwertner. A mediação ficou a cargo do diretor de conteúdo do grupo A Hora, Fernando Weiss.
A geração da vida perfeita
O palestrante criticou a ideia de vida perfeita perseguida pela sua geração. Para ele, as pessoas desta geração buscam um processo muito complexo, se comparado à dos seus pais.
“Nossos pais tinham um caminho mais fácil para a felicidade. O pai trabalhava, nutria a família, escolhia a profissão aos 18, casava aos 22, tinha filhos as 24; a mãe criava os filhos, que buscavam uma carreira, de preferência pública”, exemplifica.
Para Carneiro, a necessidade de ser perfeito em tudo pode ser prejudicial à criação dos filhos. A única forma de mostrar que os pais são perfeitos é ter filhos perfeitos. E quando se entra neste processo, de acordo com o palestrante, não se está olhando para os filhos, mas para si mesmo.
Ele defendeu a importância da empatia, que definiu como o exercício de se colocar na realidade do outro, pisar no mundo do outro, ao invés de tentar trazê-lo para o nosso. “Quando temos um ambiente empático em casa, temos diálogo”, concluiu.
Obrigação de dizer não
O promotor Fachinetto iniciou sua fala apresentando dados do programa Vida Mais Viva sem Álcool. A iniciativa mantida pela Alsepro (Associação Lajeadense Pró-Segurança Pública) trabalha em conjunto com as escolas para conscientizar crianças e adolescentes sobre os riscos do consumo de álcool.
Em 2018, uma pesquisa realizada pelo programa apontou que 75% dos jovens entre 12 e 18 anos haviam usado álcool alguma vez. Em 70,2% dos casos, houve consumo nos últimos 12 meses.
“A empatia é a matéria prima que tem nos faltado. Seja porque tivemos uma educação mais rigorosa ou porque passamos a querer ser modernos e neste processo nos destituímos da nossa obrigação de dizer não”, afirmou.
Fachinetto afirmou que a busca pela felicidade passou a ser individual e que o crescente acesso à informação maior definem o contexto atual da sociedade.
“Esta busca da felicidade, por incrível que pareça, estas substâncias dão. Não se iludam. E aí vem o que nós vamos pôr em troca”, propôs.
Te vira, meu filho
A doutora em Educação Suzana Feldens Schwertner citou pesquisas com crianças e adolescentes que apontam que, por mais que várias outras figuras de referência para as crianças, os professores ainda são uma grande referência.
“Mesmo com toda tecnologia, celulares, computadores, internet, eles continuam dizendo que a figura do professor frente-a-frente é muito importante e que estar na escola é importante, porque eles conseguem ter outras visões para além do que eles veem em casa.”
Suzana fez uma crítica em relação aos espaços de fala sobre a educação, muitas vezes ocupados por pessoas que não estudam o assunto e não detêm o conhecimento específico da área.
“Muitas pessoas hoje se colocam a falar sobre escola, especialmente a criticar muito a escola, e nem são da área da educação. Você vai ouvir alguém falando sobre escola e onde está o pedagogo? Onde está a pessoa que estuda e se prepara para isto?”
A psicóloga encerrou o debate citando o poema “Te vira, meu filho” do livro Duelo do Batman com a MTV, de Sérgio Caparelli, que traz diversas situações de dificuldade pelas quais passa uma pessoa ao longo do crescimento, sempre com a resposta do título. “Se derrapares em uma curva por perseguires o vento. Te vira meu filho”, diz um trecho. E conclui: “Te vira para mim que eu te estenderei a mão”